español
Anúncio nos classificados, o amor pelas ondas do rádio, namoro na televisão e agências de encontros. Desde que o mundo é mundo, os seres humanos inventam rituais e situações sociais que possam promover o encontro de pessoas em busca de um romance, uma transa, um casamento, um amor bandido ou uma paixão impossível, para enumerar algumas das infinitas variações sobre o mesmo tema. Para além da subjetividade de cada pessoa, o tempo histórico e a cultura em que se nasce pode determinar grande parte dos rituais amorosos ou sexuais que farão parte de sua vida. O que vai parecer natural ou forçado no campo das relações afetivas depende de quais rituais sua geração encontrou para resolver essa grande incógnita que é a arte de encontrar uma pessoa interessante dando sopa por aí. Pois bem, é um grande lugar-comum discorrer sobre as mudanças que as redes sociais e os aplicativos de encontros proporcionaram na forma como as pessoas se conhecem e se conectam na atualidade. O que me interessa, nessa ocasião é Lucy40 e seu jogo de imagens. Se a lógica é a do jogo (amoroso, social, sexual), então a proposta é questionar as imagens que servem de aparato para ilustrar a partida: cada um escolhe suas cartas, monta seu perfil e a sorte está lançada. O que as cartas de Lucy40 revelam e escondem para o sujeito atrás da outra tela, quando a encontra? O que desperta a curiosidade ou arranca do tédio os dedos ágeis passando a sucessão infinita de fotos na tela do celular? É a pergunta que Lucy40 lança, questionando assim, através de sua ficcionalidade proposital, qual o nível de construção imagética proposto no perfil de seus interlocutores. Em um espaço onde verdade ou mentira são conceitos relativos, interpretados ao sabor do desejo, o disfarce pictórico de Lucy40 pode, sob olhos inteligentes, revelar mais do que esconder. Isso tudo vai depender da astúcia do jogador, de um bom olhar para os detalhes e da arte de elaborar as perguntas certas. Partindo do Jogo de Imagens e culminando nos Contos do Tinder, Lucila Vilela apresenta, com a astúcia de uma blefadora, a potência narrativa das imagens no jogo mais disputado desde que o mundo é mundo: o amor.
JOGO DE IMAGENS
Jogo de Imagens é uma experiência artística dentro dos aplicativos de relacionamento. Foram feitos quatro jogos em quatro aplicativos diferentes.
Com procedimento de apropriação cada jogo traz uma curadoria de imagens de artistas contemporâneos e/ou da história da arte.
O perfil é sempre Lucy, 40. E a descrição: Entrando no jogo de imagens. Alguém me acompanha?
No final de cada jogo tem uma fotografia que funciona como a assinatura de Lucila Vilela.
TINDER
Imagens Tinder:
Violação, de Rene Magritte (pintura/1935) | Autorretrato com máscara peruana I (fotografia/2020) | Autorretrato com máscara equatoriana (fotografia/2020)| Autorretrato com máscara peruana II (fotografia/2020) | Autorretrato com máscara colombiana (fotografia/2020) | Assinatura, de Lucila Vilela (foto: Lela Martorano, 2020)
HAPPN
Imagens Happn:
Sem coração, de John Currin (1997); Lábios de rubi, de Salvador Dalí (jóia/broche, 1940); O espelho falso, de Rene Magritte (1928); Sem título, Série Envolvimento, de Wanda Pimentel (1968); A mão de Gina, de Tom Wesselmann (1972-1982); Assinatura, de Lucila Vilela (foto: Lela Martorano, 2020)
BUMBLE
Imagens Bumble:
Sem título, de Miltos Manetas (2017); Escultura de David Altmejd (2019); Cem Monas, de Nelson Leiner (2012); Mulher saindo do psicanalista, de Remedios Varo (1960); A artista de micróbio (autorretrato em Baikinman) (2018); Assinatura, de Lucila Vilela (foto: Lela Martorano, 2020)
BADOO
Imagens Badoo:
A grande Odalisca (detalhe), de Ingres (1814); Mulher olhando, de Miltos Manetas (2013); Betty, de Gerhard Richter (1988); Mulher com o brinco de pérola, de Johannes Vermeer (1665); Uma canção de estações, de Angela Fraleigh (2015); Assinatura, de Lucila Vilela (foto: Lela Martorano, 2020)