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Reflexões sobre a Ação 1: Narrativas em dois corpos o projeto, do projeto Corpo, tempo e movimento em seis ações de dança, concebido por Sandra Meyer, Milene Duenha, Paloma Bianchi e Diana Gilardenghi.
Diana Gilardenghi e Sandra Meyer em Ação 1: Narrativas em dois corpos
Percurso 1: Subjetividade
Onde a dança acontece? A experiência de vida desliza sobre as subjetividades de duas grandes artistas da dança: Diana Gilardenghi e Sandra Nunes Meyer. Através da narração de suas histórias de vida entrelaçadas pelas suas histórias na dança, o espectador vislumbra contextos que atravessaram as subjetividades dessas artistas nas culturas brasileira e argentina e que vieram a se encontrar em Florianópolis. Ao mencionarem a presença da ditadura juntamente com a descrição de alguns momentos de suas experiências dançantes podemos sentir que a subjetividade, de fato, não é um lugar íntimo e privado, e sim, um lugar de cruzamento de forças que atinge a todos nós.
Percurso 2: Corpo
O que acontece no corpo quando se dança na sala de dança? Elas começaram uma conversa entre corpos, relembrando as aulas de dança, as falas das professoras de jazz, de balé, uma rememoração corporal. Sequências com passos demarcados, reconhecemos os de Marta Graham. Os gestos se compõem: o corpo de uma com o olhar da outra. Palavras. A leitura dos currículos, uma apresentação pessoal, formal, infinita que não dá conta de tudo que seus corpos contam sobre si: seus danças, suas histórias, suas biografias inacabadas. Depois da conversa, do desconforto, do estranhamento, elas abandonam as palavras buscando respostas ao momento sempre novo do aqui e agora, memória em vida, arquivo vivo do corpo que dança... não mais sem parar. Sandra implora: alguém pode parar... Não. Vamos transformar... o passo, a dança, o tempo, a vida... a própria morte do corpo em de-com-po-si-ção.
Percurso 3: Espelhos
O que se mantém e o que se dissipa quando se dança num palco? No início do espetáculo, o público assiste à preparação da artista brasileira Sandra Nunes Meyer e da artista argentina Diana Gilardenghi em uma pequena sala de dança com espelhos, a qual cria um espaço íntimo e dispara a sensação de compartilhamento de um ensaio. Elas lembram juntas da sequência de movimentos que irão realizar posteriormente e logo começam efetivamente as movimentações. Parênteses para falar do espelho: elas não o usam o tempo todo, ou melhor, o primeiro colocar-se delas no espaço não acontece de frente para o espelho que, acredito, seria a atitude mais formalizada quando se começa um aquecimento em uma sala de dança com espelhos e isso é uma das primeiras rupturas do trabalho.
Diana Gilardenghi e Sandra Meyer em Ação 1: Narrativas em dois corpos
Percurso 4: Sonoridades
Um tango argentino vai bem melhor que um blues? A paisagem sonora que elas propõem não é preenchida por música, e sim, por comentários de ambas sobre as dificuldades de executar certos passos e dores que sentem. Aqui a dança se relaciona com uma melodia de palavras, o que é extremamente interessante, visto que o público torna-se cúmplice, tem acesso aos bastidores e à revelação (para quem achava que fosse diferente) de que o trabalho de um bailarino é árduo, envolve dores, disciplina e superação. O corpo delas, ano 1957, março, abril, maio. Cronos em passos, em compassos, de um tango, de um blues... Summer Times. Kairós. O som da voz cristaliza o gesto, no tempo do verbo conjugado no passado.
Percurso 5: Memória
O que acontece com o corpo entre a parede e o chão? O que se pode encontrar no escuro e meio aos escombros? Uma conversa entre artistas da dança permeada por memórias de suas histórias de vida e de suas histórias na dança. As reações que cada uma esboça diante da informação contada pela outra pode ser surpreendente, pois elas permitem que haja esse espaço do reagir imediato. Memórias vivas a narrar a história da dança que passa pelo corpo vivo a dançar. Ontem, hoje, amanhã encarnados, enraizados no momento presente da efemeridade do corpo que dança.
Percurso 6: Temporalidade
Que dança é possível hoje? Quase ao final da ação, elas compartilham um momento que não estava combinado – uma composição em tempo real – e que desenrolou-se de acordo com a relação que elas estavam estabelecendo naquele momento: a espera, a confiança no que viria a ser, o acaso como potência de criação articulando as narrativas em dois corpos. Congela-se os gestos. Fotografia. Possibilidades do corpo no espaço-tempo da dança. Registros, a folha termina, a folha se acaba, é outono, tempo de folhas ao chão.
Leia também a entrevista com Diana Gilardenghi, Sandra Meyer, Paloma Bianchi e Milene Duenha.