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Este escrito se refere à mostra de videodança ocorrida dentro da programação do Festival Multipla Dança, na cidade Florianopolis, estado de Santa Catarina, Brasil.
A série intitulada "Videodança Brasil" trouxe uma compilação de videodanças brasileiros numa retrospectiva de 10 anos do maior Festival de Videodança do país: o Dança em Foco. Desde 2003, este Festival se estrutura em três pontos principais: fruição, produção e formação, realizando convocatórias nacionais internacionais para a MIV (Mostra Internacional de Videodança) e também promovendo diálogos, oficinas, publicações exclusivas e inéditas sobre o assunto. Desde o ano de 2007 eu acompanho a história deste Festival e pude participar de oficinas e conhecer pessoas que produzem e ensinam esta forma de arte - Billy Cowie e Liz Aggiss, Douglas Rosenberg, Andrea Bardawil e Alexandre Veras, Felipe Ribeiro, Luciana Ponso, Paulo Caldas - e também artistas, companheiros dos cursos, que encontrei neste caminho videodançante e que me fazem pensar desde sempre sobre possibilidades de formação e produção nesta linguagem. Foi esta vontade que me impulsionou a criar a partir deste mesmo ano, o canal de pesquisa na internet chamado VIDEODANÇA+, que concentra em seu corpo mais de três mil videodanças divididos em diferentes sites de armazenamento de vídeos, textos, sites de artistas, numa constante atualização de informações disponíveis na internet sobre esta linguagem.(1)
A parceria entre estes dois queridos Festivais, o Dança em Foco e o Múltipla Dança, me traz alegria em ver laços se estreitando e a necessidade de se continuar a ver, produzir, pensar e viver dança e videodança, atravessando os desafios econômicos, políticos, sociais, e porque não dizer também, éticos e estéticos. Das videodanças que assisti, muitos me fizeram lembrar pessoas e idéias, repensar vontades, considerar que há muito a ser feito. Para a dança. Para a Videodança.
O texto que me chega também como disparador desta minha escrita lembra as idéias de Spinoza, por Paloma Bianchi, que em sua tessitura, faz descrições de imagens e estados diversos através da visão de uma espectadora frente ao encontro entre câmera e corpo. Traz uma metáfora muito interessante: coloca-se o mau encontro (ou não encontro), como sendo ambas as linguagens, a dança e o vídeo, atuando em movimento ensimesmado. O bom encontro seria a mistura perfeita entre a dança e o vídeo, o lugar em que o espectador não distingue mais as linguagens, o lugar quase possível em que encontraríamos videodança. Sigo na leitura pensando que esta metáfora cria um espaço que demonstra a percepção e afetos de um espectador possível frente à uma obra de videodança qualquer, isto é, de uma maneira ampla, mostra que há espaço para o espectador de encontrar-se com a obra de maneira pessoal, singular.
Mas quando tento pensar para além da percepção pessoal do espectador, sem excluí-lo, quando queremos tratar sobre a videodança como linguagem, como conjunção, talvez esta metáfora dual de encontro encerre o processo de construção da mesma, fazendo ela pecar pela falta ou pelo excesso.
Para tanto, considero Canclini em seu termo hibridação, que traz uma idéia pensada para tratar sobre processos culturais onde estruturas que existiam de forma separada passam a se combinar para gerar novas estruturas, objetos e práticas, sem definir sobre o caráter positivo ou negativo, mas como um processo que pode ter derivações diferentes, gerar fusões muito fecundas, aberturas de horizontes para membros de uma cultura, ou quase sempre, contradições, conflitos, confrontações. (2)
Penso que esta noção de hibridação amplia as possibilidades de relação entre o corpo e a câmera, pois parece considerar o processo de todo e qualquer encontro. Pode ser que assim visualizemos videodança como uma nova forma política de se fazer arte, uma obra de arte contemporânea, que considera e oferece possibilidade tanto ao artista de experimentar o processo, o caminho, o erro, como também a liberdade ao espectador de completar a obra, como uma sobrevivência e continuidade do movimento.
(1) ver http://www.videodancapesquisa.blogspot.com
(2) Ver entrevista com Canclini em Caliban - Revista Latino Americana de Psicanálise - Excesso - número 3, ano 2014. pg 109. FEPAL - Federação Psicanalise da America Latina.