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As entrevistas apresentadas neste dossiê foram realizadas no Centro de Artes da Universidade de Santa Catarina, Florianópolis-Brasil. O material é resultado da disciplina “Territorialidades Modernas e Contemporâneas”, ministrada em parceria pelos profs. Rosângela Cherem[1] e Felipe Soares[2], no segundo semestre de 2013. A disciplina foi elaborada através de um plano de trabalho desenvolvido a partir da relação entre pensamento, imagem e arquivo como estrutura móvel.
Procurando construir um campo de interlocução transdisciplinar, considerou-se especialmente a problemática das artes espaciais[3], não como sendo um dado classificatório, mas uma operação que assume a mobilidade disciplinar e seu constante deslocamento. Sendo o espaçamento um efeito, as artes espaciais contemplam atravessamentos e confluências entre o cinema, a fotografia, o desenho, o vídeo, o teatro, a música, a literatura e assim por diante, podendo ser concebidas como silenciosas, uma vez que há nelas algo que não é possível abarcar, interrompendo a ordem e as regras; como também contemplam algo reverberante, sobre o qual sempre resta algo a dizer. Os alunos mestrandos e doutorandos complementaram esta abordagem por meio de entrevistas com profissionais onde a atuação e produção profissional pudesse ser relacionada ao respectivo ponto de partida, compondo um total de nove entrevistados que aqui aparecem de modo compactado.
SANDRA MEYER fala sobre suas diferentes atuações, tais como como bailarina, performer, atriz, professora, curadora, coreógrafa, organizadora de livros, dentre outras. Destacando um território híbrido de conhecimentos e experiências, permite pensar o arquivo como campo de repertórios múltiplos, sempre sujeito a deslocamentos, coexistências e confluências.
FERNANDO LINDOTE reflete sobre seu trabalho como artista plástico, sua formação e interlocuções. Em particular, permite pensar sobre algumas polaridades que se apresentam em seu trabalho: modernismo e cultura de massa, arte pop e neo-concretismo. Igualmente, destaca alguns paradoxos do artista contemporâneo, particularmente no que diz respeito do artista ter que perseguir e ser fiel as suas próprias questões e por outro lado se inscrever num circuito e no mercado.
EDELCIO MOSTAÇO, partindo do espetáculo Sobre o conceito de face no filho de Deus, procura pensar as particularidades e distâncias entre as artes cênicas e as visuais para onde incidem, tanto diferenças perceptivas como de formação, fenômeno que inclui também o espectador e a própria crítica de arte. Nesta conversa, pode-se reconhecer, ainda, questões de fundo como a problemática da imagem e da figuração, da representação e e da presentificação.
ALBERTO HELLER assinala a música como um dispositivo para pensar o som e o próprio silêncio, considerando-o como um gesto de apagamento do eu artístico em proveito do corpo-pensamento.
RAUL ANTELO enfatiza questões relacionadas à montagem enquanto aproximação de temporalidades, intervenção e corte. Destacando a imaginação como impugnação do real, reconhece sua dimensão de dispositivo para acionar o inexistente, descredenciando o olho em proveito do improvável e do inesperado.
RODRIGO BASTOS partindo de sua tese, A maravilhosa fábrica das virtudes, propõe uma abordagem histórica para além das versões consagradas, onde certos conceitos empregados à época do Brasil colonial, como o de decoro e engenho, permitem abertura para compreensão daquela realidade como um todo, estendendo-se para outros âmbitos da ação humana. Do mesmo modo, defende que certos conceitos, como o de rastro e vestígio, empregados na atualidade, permitem enriquecer e potencializar certas particularidades passadas.
KLEBER ALEXANDRE: aborda a relação da música com a imagem (sensação) e a palavra (poesia como ponto de partida), considerando também a presença da música instrumental e suas possibilidades em termos de reconhecimento do público local.
ALAN LANGDON: enfatizando que o texto já é uma visualidade, fala sobre sua experiência na elaboração de roteiro e na edição de filmes e vídeos. Considerando a questão do diário em seus registros visuais e a relação entre os mesmos com o documentário e ficção, fala sobre as ressonâncias que o cotidiano exerce em sua poética.
LIGIA ROSSENQ: a administradora do Museu de Arte de Santa Catarina salienta a importância e as dificuldades para manutenção e ampliação, bem como as condições de o acesso ao público das cerca de 1800 obras, incluindo desde o apoio da sociedade civil até a vontade política dos dirigentes. Abordando as possibilidades existentes em termos de política cultural e as condições dadas para que a vida artística se efetue, reflete sobre a importância da negociação e da sensibilidade para com o patrimônio público.
Em uma parceria com a Universidade do Estado de Santa Catarina, a Revista Digital Interartive apresenta o conjunto de entrevistas com o intuito de mapear a situação de profissionais que atuam no setor artístico na cidade de Florianópolis, no sul do Brasil. Os entrevistados provêm de diversas áreas e levantam questões que permitem considerar tanto uma visão panorâmica da cultura local, como as problemáticas que se articulam através do conceito de artes espaciais, tal como considerado por Derrida.
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[1]Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais no Centro de Artes da Universidade do Estado de Santa Catarina, Brasil
[2]Programa de Pós-Graduação em Literatura no Centro de Comunicação e Expressão da Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil
[3]Jacques Derrida. As artes espaciais: uma entrevista com Jacques Derrida. In: Pensar em não ver, escritos sobre as artes do visível. Florianópolis, Ed. Ufsc, 2012.